Custo a acreditar, mas é verdade... Hoje, algo que estava fazendo força para viver dentro de meu ser, foi brutalmente assassinado. Agora não sei o que fazer, estou com uma espécie de cadáver dentro de mim. Será que existe serviço funerário para esse tipo de morte.
Imaginem a cena:
- Alô, é da funerária que cuida de sentimentos mortos.
- Sim senhor, somos especialistas em retirar, encaixotar e enterrar sentimentos que morreram e não servem para mais nada.
- Se eu levar o cadáver até vocês sai mais barato?
- Não existe custo senhor, nosso pagamento é seu bem estar.
É evidente que a parte de não cobrar nada pelo serviço é pura ficção, desde quando alguém faz um serviço desses e não cobra nada. Eu cobraria!
Mas a questão não é essa, o fato é que tenho que retirar esse cadáver daqui. Tá começando a produzir mal cheiro, não por mim pois não sinto cheiro, mas pelos vizinhos que podem começar a desconfiar de algo.
"Estudiosos como Michel Vovelle concebem a morte de duas formas: a morte consumada e a morte vivida. A primeira consiste no fato bruto da mortalidade, cujo valor é difícil de ser apreciado, pois é determinado por vários referenciais como período histórico, localização geográfica, diferenças entre os sexos e faixas etárias. Já a morte vivida é a rede de gestos e rituais que acompanham o morto e seus familiares desde o percurso da última enfermidade até a agonia do túmulo."
A morte consumada neste caso não teve efeito muito drástico, mas a morte vivida...
essa sim vinha me atormentando há muito tempo. Todo o processo de desligamento que vem ocorrendo desde a última enfermidade estava sendo muito doloroso. Acho que na verdade essa morte que ocorreu aqui dentro tem um algoz. Eu mesmo. Sou o assassino que segurava a vontade e necessidade de matar pelo simples prazer da observação. Mas hoje a coisa foi diferente. Acordei, senti esse sentimento agonizante e sem pestanejar dei o tiro de misericórdia. E como sou o assassino, cuidarei sozinho desse cadáver. Assim não deixo pistas para a polícia e saio ileso deste assassinato tão terrível que cometi há menos de 1 hora atrás.
segunda-feira, maio 16, 2005
Morte consumada e morte vivida
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3 comentários
Me empresta esta bala aí, antes que eu morra de tétano, por culpa do aço enferrujado.
Então, gostei do teu texto ,bem menos rebuscado que o meu, escrevo a um bom tempo e não consigo sair do marasmo maluco-de-idéias-barrocas-surreais.
Acho que te vi no orkut e entrei no blog até sem querer, sei lá. Mas foi legal encontrar este "tema" aqui.
Agora é tarde: você já se entregou. Não pode mais cuidar sozinho disso. Tem que falar a respeito. É pela boca que sai esse tipo de morto e deixa no ar o cheiro da vida renovada.
Isso não quer dizer que o morto não possa reviver depois de expelido. Mas, pelo menos, só entra em você de novo se e quando você quiser.