sábado, abril 30, 2005

Caminhada - Hermann Hesse

"Hoje à noite pedirei para fritarem alguns peixes e os comerei, bebendo bastante vinho tinto da região, assim faremos o mundo brilhar novamente e acharemos a vida mais suportável. Para não mais ver e ouvir essa chuva morna, acenderemos o fogo na lareira da taberna, fumarei um longo charuto Brissago e olharei meu copo de vinho contra as chamas fazendo-o brilhar como sangue, certamente faremos isso e então a noite há de passar, conseguirei dormir e amanhã será tudo diferente. Os pingos da chuva caem sobre a água da praia, um vento frio e úmido agita as árvores molhadas que reluzem como peixes mortos. O diabo entornara o caldo, nada mais está certo e afinado, nada mais alegra e aquece, tudo parece vazio e triste, estragado, os tons desafinados e as cores falsas. Bem que sei por que tudo está assim. Não é por causa do vinho que eu bebi ontem, nem da cama incômoda em que dormi, nem por causa do tempo chuvoso. Foram os diabos que passaram por aqui e desafinaram corda por corda em meu ser."

Adoro esse fragmento da caminhada, Hesse é um escritor que consegue falar tão bem desse vazio que nós humanos sentimos de vez em quando. Tenho a impressão de que seus livros foram escritos seguindo a ordem de sua evolução espiritual. Percebe-se a cada livro como ele está diferente. Podemos perceber isso em Sidarta, onde ele encontra no Budismo várias explicações para o sofrimento humano e de certa forma mostra o que devemos fazer para se libertar desses sofrimentos e angústias. Dos livros que li, "O lobo da Estepe" foi de longe o melhor, livro escrito para um número seleto de leitores e que causou mudanças significaticas em meu ser. Como diria Hesse: Um livro para loucos...

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