"Hoje à noite pedirei para fritarem alguns peixes e os comerei, bebendo bastante vinho tinto da região, assim faremos o mundo brilhar novamente e acharemos a vida mais suportável. Para não mais ver e ouvir essa chuva morna, acenderemos o fogo na lareira da taberna, fumarei um longo charuto Brissago e olharei meu copo de vinho contra as chamas fazendo-o brilhar como sangue, certamente faremos isso e então a noite há de passar, conseguirei dormir e amanhã será tudo diferente. Os pingos da chuva caem sobre a água da praia, um vento frio e úmido agita as árvores molhadas que reluzem como peixes mortos. O diabo entornara o caldo, nada mais está certo e afinado, nada mais alegra e aquece, tudo parece vazio e triste, estragado, os tons desafinados e as cores falsas. Bem que sei por que tudo está assim. Não é por causa do vinho que eu bebi ontem, nem da cama incômoda em que dormi, nem por causa do tempo chuvoso. Foram os diabos que passaram por aqui e desafinaram corda por corda em meu ser."
Adoro esse fragmento da caminhada, Hesse é um escritor que consegue falar tão bem desse vazio que nós humanos sentimos de vez em quando. Tenho a impressão de que seus livros foram escritos seguindo a ordem de sua evolução espiritual. Percebe-se a cada livro como ele está diferente. Podemos perceber isso em Sidarta, onde ele encontra no Budismo várias explicações para o sofrimento humano e de certa forma mostra o que devemos fazer para se libertar desses sofrimentos e angústias. Dos livros que li, "O lobo da Estepe" foi de longe o melhor, livro escrito para um número seleto de leitores e que causou mudanças significaticas em meu ser. Como diria Hesse: Um livro para loucos...
sábado, abril 30, 2005
sexta-feira, abril 29, 2005
Visão Budista de um cético religioso
Ando um pouco cansado de procurar não sei o que. Acho que quando procuramos algo esse algo fica cada vez mais distante. Tento ficar calado para poder pensar..., Chego a conclusão de que tudo sempre aconteceu como deveria acontecer, isso é um fato. Mas agora o imprevisível me roubou dos braços da certeza para finalmente ter com ele, não respondo mais por mim nem pelos outros. Já desisti há tempos de tentar mudar o mundo e de ajudar as pessoas que chego até a esquecer como eram aqueles sentimentos e atos de solidariedade para com o próximo. É claro que ainda me importo com o sofrimento alheio, só não consigo mais me preocupar com o ato em si. Acho que preciso ajudar a mim mesmo. Ironia, a revolução começa onde tudo sempre esteve e estará. Somos tão ligados ao que complementa nosso ser, a nossa alma gêmea, que acabamos tontos de tanta necessidade dela ao nosso lado. Será que existe essa tal de alma gêmea? Às vezes chego a duvidar, mas é só encontrar alguém que acende nossas faíscas internas e pronto! Voltamos a acreditar e até a teorizar sobre as almas gêmeas. Nós humanos somos engraçados, acreditamos tanto em algo externo que irá nos salvar que ficamos cegos para nós mesmos. O segredo está aqui dentro, disso tenho certeza. Mas como é difícil aceitar isso. Parece tão simples e ao mesmo tempo tão complicado. Passo a acreditar em reencarnação, uma desculpa para os males da humanidade. Estamos aqui para pagar nossa dívida com nós mesmos e só seremos felizes se realizarmos nossos desejos mais profundos enquanto ainda estivermos vivos. E viver bem é uma arte, nunca esqueça disso.
Jack
Jack
O suave cheiro do ar...
A última lembrança que tenho de algum cheiro não estimulado quimicamente é de quando tinha seis anos de idade. Foi numa tarde de sábado, quando meus pais decidiram matar algumas galinhas de nosso pequeno galinheiro. Até ai tudo bem, pois cresci freqüentando fazendas de tios onde o início da festança era a matança do porco. Participei de três delas e sempre achei tudo aquilo muito divertido. O homem mais velho e experiente do grupo era escolhido para desfechar o golpe que mataria a pobre criatura. Logo após o óbito do bicho, o restante dos homens partia para cima do animal para começar a limpeza (inclusive eu que tinha apenas seis anos). Essas cenas nunca me assustaram, nem a cena da morte das galinhas. Acho que o problema começou quando meus pais resolveram tirar as penas das falecidas aves. No interior eles usam água quente para que as penas se desprendam mais facilmente e como meus pais eram de lá, faziam o mesmo. Só que nessa tarde inesquecível de sábado eles resolveram fazer isso na minha antiga banheira de bebê cor-de-rosa, que já estava aposentada há algum tempo e também foi usada por minha irmã. Ferveram uma panela grande de água e começaram a despenar as coitadas, eu me encontrava parado ao lado dessa cena e consigo lembrar até hoje daquele cheiro horrível que me causou uma lesão físico-psicológica que acabou de vez com meu olfato.
Demorei a perceber que minha falta de olfato provinha desse acontecimento, pois só fui tomar conta de que não sentia cheiro quando tinha uns quinze anos de idade. E só passei a me preocupar com isso quando tinha uns vinte e quatro anos. Acho que alguma porta no meu cérebro foi fechada naquele momento. Pois não tenho lembranças olfativas á partir dessa data. Procurei médico e terapeutas e o que consegui foram apenas alguns vislumbres de cheiros muito fortes como peixe e alho, mas não meu olfato, esse já está perdido há muito tempo.
Mas existe um fato que é muito interessante em tudo isso, meus outros sentidos são mais aguçados, menos o paladar, pois está diretamente ligado ao olfato. Minha audição é extremamente ampliada, escuta barulhos a uma distância incrível. Minha visão é ótima, mesmo trabalhando durante anos na frente de um computador, não falhou nenhuma vez.
E meu tato é extremamente sensível, fico excitado quando toco na pele de uma bela mulher, mais do que o normal, eu diria.
Acho que minha falta de olfato já não me incomoda mais como antigamente, os únicos momentos que lembro dessa minha deficiência física é quando algum amigo leva algo até meu nariz e diz: sente o cheiro! O que faço sempre é tentar sentir, quem sabe algum dia meu nariz pega no tranco e passo a sentir a existência dessa entidade invisível.
Jack
Demorei a perceber que minha falta de olfato provinha desse acontecimento, pois só fui tomar conta de que não sentia cheiro quando tinha uns quinze anos de idade. E só passei a me preocupar com isso quando tinha uns vinte e quatro anos. Acho que alguma porta no meu cérebro foi fechada naquele momento. Pois não tenho lembranças olfativas á partir dessa data. Procurei médico e terapeutas e o que consegui foram apenas alguns vislumbres de cheiros muito fortes como peixe e alho, mas não meu olfato, esse já está perdido há muito tempo.
Mas existe um fato que é muito interessante em tudo isso, meus outros sentidos são mais aguçados, menos o paladar, pois está diretamente ligado ao olfato. Minha audição é extremamente ampliada, escuta barulhos a uma distância incrível. Minha visão é ótima, mesmo trabalhando durante anos na frente de um computador, não falhou nenhuma vez.
E meu tato é extremamente sensível, fico excitado quando toco na pele de uma bela mulher, mais do que o normal, eu diria.
Acho que minha falta de olfato já não me incomoda mais como antigamente, os únicos momentos que lembro dessa minha deficiência física é quando algum amigo leva algo até meu nariz e diz: sente o cheiro! O que faço sempre é tentar sentir, quem sabe algum dia meu nariz pega no tranco e passo a sentir a existência dessa entidade invisível.
Jack
segunda-feira, abril 25, 2005
Cena tarantinesca do alto de um balão...
Ando pelas ruas buscando inspiração para fazer algo que nunca fiz mas que no fundo sempre desejei.
Estou atrás de um momento único e irreversível no plano histórico da minha vida. Penso que uma cena Tarantinesca cairia bem, é claro que somente se o sentimento de culpa me deixasse viver sem lembranças e arrependimentos. Mas pensando bem, mesmo que não existisse esse sentimento para me atormentar, ainda existiria o fato de ninguém poder saber nada sobre o ocorrido e isso elimina com a possibilidade de um ato desses. Qual seria a graça de tal ato se as pessoas não soubessem quem era o autor, com certeza a sensação de liberdade duraria muito pouco. Eu poderia levar alguém a fazer esse ato por mim, seria deveras interessante até um certo ponto. Mas o problema ainda continuaria, não seria eu a sentir o momento crucial de mudança e ruptura com os antigos valores. Por enquanto esse ato fica fora de questão, quem sabe daqui uns 20 anos faça mais sentido e eu já não me preocupe com o sentimento de culpa e nem com o estrelato. Vou fazer algo mais significativo para meu ser: atravessar a Antartida num balão em pleno inverno rigoroso. Só para tirar algumas fotos e ficar um pouco isolado do mundo. Isso sim é algo interessante que traz liberdade e auto-conhecimento. Quem sabe posso viver minha cena tarantinesca com alguma foca branca ou com uma orda de pinguins tomando sol. Bem, depois decido isso. Agora preciso arranjar urgentemente um balão...
Estou atrás de um momento único e irreversível no plano histórico da minha vida. Penso que uma cena Tarantinesca cairia bem, é claro que somente se o sentimento de culpa me deixasse viver sem lembranças e arrependimentos. Mas pensando bem, mesmo que não existisse esse sentimento para me atormentar, ainda existiria o fato de ninguém poder saber nada sobre o ocorrido e isso elimina com a possibilidade de um ato desses. Qual seria a graça de tal ato se as pessoas não soubessem quem era o autor, com certeza a sensação de liberdade duraria muito pouco. Eu poderia levar alguém a fazer esse ato por mim, seria deveras interessante até um certo ponto. Mas o problema ainda continuaria, não seria eu a sentir o momento crucial de mudança e ruptura com os antigos valores. Por enquanto esse ato fica fora de questão, quem sabe daqui uns 20 anos faça mais sentido e eu já não me preocupe com o sentimento de culpa e nem com o estrelato. Vou fazer algo mais significativo para meu ser: atravessar a Antartida num balão em pleno inverno rigoroso. Só para tirar algumas fotos e ficar um pouco isolado do mundo. Isso sim é algo interessante que traz liberdade e auto-conhecimento. Quem sabe posso viver minha cena tarantinesca com alguma foca branca ou com uma orda de pinguins tomando sol. Bem, depois decido isso. Agora preciso arranjar urgentemente um balão...